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Após 86 anos, Sulserra enfrenta colapso financeiro
Por Rádio JB
Publicado em 08/12/2025 20:03
Regionais
Fonte e foto: Jornal Província

A Sulserra, uma das empresas mais tradicionais do transporte rodoviário gaúcho, atravessa o momento mais crítico de sua história. Com 86 anos de atuação, a companhia — que já figurou entre as cinco maiores do setor no Rio Grande do Sul, foi pioneira em rotas no Mato Grosso e operou linhas de turismo internacional — agora encara um cenário que ameaça definitivamente a continuidade de suas atividades.

O processo de recuperação judicial revela a dimensão do colapso financeiro. A dívida homologada ultrapassa R$ 70 milhões, sendo mais de R$ 41 milhões apenas em tributos inscritos na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. O passivo concursal soma R$ 28,7 milhões, distribuídos entre 205 credores. Além disso, a empresa enfrenta débitos extraconcursais que envolvem obrigações fiscais, contratos de leasing, operações de câmbio e garantias fiduciárias.

A consulta mais recente na Central Nacional de Protestos, realizada em agosto de 2025, aponta 304 títulos registrados contra a companhia. Em paralelo, os documentos contábeis mostram um acúmulo de prejuízos sucessivos: no primeiro semestre de 2025, o déficit chegou a quase R$ 1 milhão, pressionado pelo aumento dos custos operacionais e de obrigações tributárias. Somados aos prejuízos de exercícios anteriores — mais de R$ 14 milhões — o patrimônio líquido da Sulserra encontra-se negativo em mais de R$ 35 milhões.

Mesmo com dificuldades profundas, a empresa seguia ativa. Em 2024, mantinha 50 funcionários; em 2025, 49 colaboradores constavam nos documentos apresentados, indicando estabilidade no quadro de pessoal. Porém, o relatório da Administração Judicial registra que a companhia deixou de cumprir diretrizes essenciais do Plano de Recuperação Judicial, incluindo prazos, apresentação de demonstrativos e pagamentos previstos às classes de credores.

Entre os descumprimentos apontados estão falhas na entrega de documentos financeiros, atrasos em obrigações com o BADESUL — cujo prazo de carência extraordinário se encerrou em agosto de 2025 sem pagamento — e inconsistências no processo de cessão de créditos trabalhistas. A Administração Judicial conclui que a empresa está “em franco descumprimento” das condições estabelecidas, comprometendo a continuidade do processo.

Apesar das dificuldades, parte dos credores colaborativos operacionais recebeu integralmente as parcelas previstas no plano. Porém, o avanço das pendências judiciais e o excesso de dívidas tornaram a situação insustentável.

A Sulserra, que durante décadas foi sinônimo de deslocamento, trabalho, turismo e conexão entre cidades, agora vive o risco real de encerrar uma história construída sobre milhões de quilômetros rodados e milhares de passageiros transportados. O possível fim da empresa carrega um peso emocional para as comunidades que testemunharam sua presença constante ao longo de gerações, mas também reforça a gravidade do momento enfrentado, marcado por desafios financeiros severos e obrigações judiciais que não foram cumpridas.

A Administração Judicial reforça que o caso segue em análise, com base na documentação fornecida pela própria empresa, reuniões e visitas realizadas durante o processo de recuperação. As informações continuam sendo avaliadas, e os desdobramentos judiciais determinarão os próximos passos da trajetória da Sulserra — uma trajetória que, após quase nove décadas, pode estar chegando ao fim.

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